segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sombra

A Sombra é um dos conceitos mais importantes da teoria junguiana, ou seja, do psicólogo Carl Gustav Jung que desenvolveu a linha psicológica que conhecemos como Psicologia Junguiana ou Psicologia Analítica ou Psicologia Complexa… Sim, são vários nomes para uma mesma teoria, o que mostra sua diversidade de entendimentos.

A Sombra é um dos conceitos centrais presentes em praticamente todas as formas de se compreender a psicologia de Jung, mas, novamente, cada forma tem uma maneira diferente de compreendê-la. Vou aqui descrever como eu a concebo.

A Sombra é a parte mais obscura da nossa psique (psique não é mente. Em breve vou escrever sobre como mente e psique são dois conceitos diferentes e sobre como eu não acredito em “mente”). Ela recebe tudo aquilo que não aceitamos como parte da nossa personalidade ou “identidade” ou “Ego”, chamado de “Complexo de Eu”. Aqui vale uma breve explicação sobre o que é complexo:

Complexo Ideo-Afetivo é uma associação de ideias e afetos em torno de um núcleo temático comum. Então, o Complexo do Ego são todas as ideias e afetos (experiências, memórias, sonos, aspirações, desejos, traumas, etc) que relaciono com aquilo que chamo de “Eu”. Da mesma forma, a Sombra é um complexo e ela reune tudo aquilo que chamo de “não-eu”. Bastante simples, por sinal.

O complicado é percebermos a Sombra. Como toda boa sombra, ela sempre fica atrás de nós (se estamos olhando para a fonte de Luz) e dificilmente vemos ela chegando. Também, se está escuro, não vemos a sombra. E geralmente só percebemos a Sombra porque ela está projetada em algo.

Projeção aqui é o conceito chave pra compreender tudo isso. Basicamente, tudo o que nos é inconsciente (e a Sombra se inclui nisso, por motívos óbvios) só nos é percebido quando é projetado. E o que isso quer dizer? Basicamente que quando eu olho para algo e eu reconheço que isso é diferente de mim, eu estou projetando nela a minha sombra; principalmente se além de reconhecer a diferença eu coloco repulsa ou algo que me separe ainda mais disso.

Como a Sombra reune tudo o que reconheço (inconscientemente, a princípio) como sendo não-Eu, basicamente tudo o que vejo como não-eu no mundo se torna projeção da minha sombra. Em outras palavras, quando eu vejo isso, eu estou vendo no outro o que reconheço como sendo não-eu em mim mesmo.

O mecanismo pode parecer um pouco complicado, mas basicamente funciona assim: como não reconheço determinada característica em mim, então eu reprimo isso, que fica inconsciente. Mas isso não fica esquecido, mas sim jogado no mundo, no outro, que é visto como portando isso que não reconheço em mim, que é minha sombra. Eu posso conscientizar isso, mas não internalizo como sendo eu.

Um bom exemplo disso, e um exemplo bem banal: José é um cara preguiçoso, mas ele não quer reconhecer isso. A preguiça nele é reconhecida como sendo um não-eu, já que ele não reconhece para si nem para os outros que ele é preguiçoso. Ele então pede a Pedro que está sentado ao seu lado para fazer o favor de alcançar uma pasta que está na outra mesa. Pedro lamenta e diz que não pode e que o próprio José poderia pegar a pasta, já que a distância é a mesma. José então fica indignado e chama Pedro de preguiçoso porque ele foi incapaz de se levantar para pegar a pasta. O engraçado é que o próprio José também foi incapaz de levantar para pegar a pasta, o que o torna, segundo seus próprios critérios, um preguiçoso. Mas como a preguiça no José faz parte de sua Sombra, ele não reconhece como sendo de si mesmo, mas sim projetado no outro e como sendo o outro.

Na nossa Sombra, geralmente colocamos os nossos defeitos, nossas culpas, vergonhas, coisas ruins que são socialmente ou pessoalmente reprovados ou qualquer coisa que nos é reprimida. Colocamos também tudo aquilo que nos foi proibido por culpa ou vergonha, quando estavamos cantarolando e criando e então disseram para nos calar. Só que isso não é ruim!

É importante perceber que nossa psique é como a natureza: ela não é moral. Qualidades e defeitos são valores conscientes que damos a características nossas. Raiva, por exemplo, pode ser visto como defeito, mas pode ser uma qualidade para quem sabe canalizar esse sentimento de forma proveitosa. Se não sabemos e nos ensinam (ou aprendemos) que devemos reprimir isso e/ou negar determinado sentimento/desejo/pensamento, ele acaba virando sombra.

E como toda boa sombra, ele fica no nosso pé. Quanto maior a luz da consciência, maior é a projeção da sombra. Quanto mais perto está a fonte da luz, mais nítida é a sombra projetada. Em outras palavras, quanto maior é a dominação da consciência, maior é a projeção da nossa Sombra no mundo e nos outros e menor é a compreensão de nós mesmos.

Nossa Sombra pode ser nossa amiga. Na verdade ela é uma realidade que não pode ser negada. Se deixamos nossa sombra inconsciente, ela vira nossa inimiga e acaba mostrando que no mundo existem vários inimigos, que no mundo existe um Mau que não pertence à mim (mas que na realidade, esse mau somos nós mesmos). Infelizmente é isso o que acontece com os vários tipos de fanatismo: sempre existe um inimigo, sejam os partidos de direita, os ateus ou simplemente aqueles que pensam diferente de nós. Esse inimigo nada mais é do que a projeção da nossa sombra inconsciente.

Mas se essa Sombra é tratada como amiga, sempre quando reconhecemos que algo fora nos incomoda, trazemos isso para nós e perguntamos: o que tenho eu dessa característica que vejo como sendo ruim nos outros? Quando reconhecemos que o mau do outro é na verdade um mau nosso, crescemos como pessoa. Nesse passo fazemos uma maior integração da sombra e ela se torna nossa amiga.

Uma Sombra amiga dá abrigo em dias de sol e luz forte, ela descansa nossos olhos, ela nos serve de fonte de diversão e entretenimento quando brincamos com suas diferentes projeções. Para para isso, temos que aprender a mexer com a sombra, ela precisa ser integrada e nossas características ruins precisam ser vistas como sendo nossas e a sombra, nossa amiga.
 FONTE:
http://pablo.deassis.net.br

Mudança de Personalidade - Quem somos nós

"...Quem nós somos é sempre uma decisão nossa..."

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Gato de Cheshire

"- Gatinho de Cheshire (...) Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
- Isso depende muito de para onde quer ir - responder o Gato.
- Para mim, acho que tanto faz... - disse a menina.
- Nesse caso, qualquer caminho serve - afirmou o Gato.
- ... contanto que eu chegue a algum lugar - completou Alice, para se explicar melhor.
- Ah, mas com certeza você vai chegar, desde que caminhe bastante.
- Mas eu não quero me meter com gente louca - ressaltou Alice.
- Mas isso é impossível - disse o Gato. - Porque todo mundo é meio louco por aqui. Eu sou. Você também é.
- Como pode saber se sou louca ou não? - disse a menina.
- Mas só pode ser - explicou o Gato. - Ou não teria vindo parar aqui.
Alice achou que isso não provava nada. No entento, continuou:
- E como você sabe que é louco?
- Para começo de conversa - disse o Gato - um cachorro não é louco. Concorda?
- É, acho que sim - disse Alice.
- Pois bem... - continuou o Gato. - Você sabe que um cachorro rosna quando está bravo e abana o rabo quando está feliz. Mas eu faço o contrário: eu rosno quando estou feliz e abano o rabo quando estou bravo. Portanto, eu sou louco."

Lewis Carroll _ Alice No País das Maravilhas