“...revelam apenas a “fímbria da consciência”, como o brilho pálido das estrelas durante um eclipse total do Sol.” C. G. Jung.
Esta é uma postagem resumida do artigo de Adenáuer Marcos Ferraz de Novaes.
Todos sonham, seja de forma premonitória ou não, e isso é
incontestável face à sua comprovação científica, o que nivela
coletivamente os seres humanos num padrão único de atividade
psíquica, sem distinção de qualquer natureza.
Pode-se dizer que o fato de todos sonharmos estabelece uma conexão transcendente
entre nós.
O desejo de que algo futuro se realize, tendo sido tomado
popularmente como sendo um sonho, transformou o termo
(sonho) em sinônimo de algo quimérico ou fantasioso.
Em alguns idiomas, a origem da palavra está associada aos termos “errante”
e “vagabundear”, porém isso não altera o significado verdadeiro e
real dos sonhos. Muito embora paire uma atmosfera de
irrealidade quando se comenta sobre sonhos, sobretudo entre
leigos, eles expressam, de forma sincera e objetiva, sem
subterfúgios ou dissimulações, o estado real do psiquismo do
indivíduo.
O mundo mental ou o mundo dos pensamentos,
sentimentos, fantasias, etc., é o mesmo mundo dos sonhos, pois,
estando-se acordado ou dormindo, a vida obedece às leis da
subjetividade interior.
Venham de onde vierem, sejam resultantes
fisiológicos ou não, a vida é comandada pelo que se elabora
psiquicamente. O mundo psíquico é completamente simbólico. A
realidade, para o mundo psíquico, é constituída de símbolos e
não das coisas em si.
Tudo no inconsciente se passa dentro de um
ambiente de imagens, de raciocínios lógicos, de sentimentos e
intuições, fora do domínio da consciência, em face de sua
limitação à concentração e à exclusão do todo.
O meio ambiente externo ao mundo psíquico é pouco relevante, salvo para gerar
aquelas imagens e idéias, pois tudo se passa a partir do que é
apercebido e não do que está posto em si. Partindo desse
princípio, o real é o psíquico, pois é a partir dele que se elaboram
respostas ao mundo dito externo a ele.
O mundo objetivo do psíquico é exclusivamente simbólico. O mundo das coisas em si é
subjetivo ao mundo psíquico. O que existe em nós são representações de imagens diferentes daquilo que percebemos como sendo o mundo.
Os sonhos fazem parte daquele mundo objetivo do psiquismo. Eles são uma realidade em si para o mundo psíquico, que, efetivamente, comanda a vida.
É no mundo dito inconsciente que se elaboram as decisões para o mundo dito consciente e vice-versa. Os sonhos são retratos instantâneos da vida psíquica do sonhador, cuja lente fotográfica é ele próprio e o material plástico é colhido do inconsciente. São como espelhos sensíveis da situação psicológica do indivíduo.
Os sonhos são sempre mensagens simbólicas cujo conteúdo está a serviço de um propósito evolutivo. Em cada sonho está implícita uma idéia diretora e significativa para a vida do sonhador.
Os sonhos são metáforas da vida real, elementos de uma linguagem poética e genuína da vida psíquica do sonhador, que nunca cessa, nem se submete às contingências egóicas. São fenômenos tão complexos quanto a consciência o é.
Ultrapassam o conceito de serem simples mensagens e recados para que o ego possa melhor dirigir sua vida de relações, pois são estruturas vivas e consistentes da personalidade que se desenvolve inexoravelmente.
Há pessoas, cujo hábito de dormir é-lhes extremamente importante e chegam a não trocar qualquer outro prazer por um bom sono. Vivem sob o domínio de Morfeu, a quem se entregam prazerosamente. Porém há aqueles para os quais dormir representa algo extremamente desagradável e dispensável.
Suas ocupações diárias são mais importantes que seu sono. Dormem mal e acordam mal. A insônia pode representar também a fuga do estado onírico desagradável. A dificuldade de dormir associa-se à preocupação latente por algo importante na vida de vigília, mas também por algo incognoscível e complexo na vida íntima da pessoa.
Se não fossem os sonhos, poder-se-ia dizer que o sono é uma morte com direito a retorno, face ao seu estado de absoluta inconsciência. Mas os sonhos ‘perturbam’ o sono demonstrando um estado “consciente” além da consciência desperta.
O sonho é um recado do Inconsciente (Self) para o Consciente (ego). É uma mensagem com endereço certo, sem devolução, pois, sempre chega ao seu destino, independente da vontade consciente do ego.
Ele tem um papel orientador e regulador da relação das duas instâncias psíquicas conhecidas, o inconsciente e o consciente. Os sonhos refletem o passado, o presente e o futuro, bem como situações atemporais. Tempo e espaço são relativizados nos sonhos assim como a noção de causalidade.
Não se pode querer que os sonhos apresentem a mesma seqüência cronológica de eventos como na consciência. Se assim fosse não seriam sonhos, mas apenas a continuidade da vida de vigília. Tratam de uma natureza que escapa à maneira ortodoxa e rígida de ver os fatos como o faz a consciência.
Todo sonho tem uma mensagem que, quando não
entendida pelo ego do sonhador, se repetirá até que o processo
de crescimento tenha atingido seu real objetivo. Essa mensagem é
que tem sido objeto de busca e compreensão.
Nem sempre ela é
encontrada, principalmente devido à forma pragmática e
preconcebida como a buscamos. A parte da mente que busca o
significado dos sonhos não é a mesma que os elabora.
Talvez o grande desejo do sonhador seja ter o domínio da
consciência durante seu sonho a fim de observar melhor o
universo em que eles são elaborados. Essa tentativa de manter sua
vitalidade é vencida pelo processo fisiológico natural do sono.
Quando a consciência retorna, ela tenta, da mesma forma,
compreender os sonhos, resvalando em sua própria incapacidade
de penetrar nos domínios que não lhe pertencem.
Pensar sobre os sonhos, anotá-los, tentar interpretá-los, ou
dar-lhes qualquer atenção, disparará um mecanismo psíquico que
produzirá novos sonhos criados pelo fato de lhes atribuirmos
algum valor.
Isso nos leva a entender que há sonhos que são
criados pela observação que fazemos deles, segundo o princípio
da incerteza ou da indeterminação de Heisenberg, de que o
objeto observado se altera com a visão do observador.
Além dos estados de sono, de despertar e de consciência
absoluta, a filosofia hindu considera o sonho um dos estados de
consciência em que o irreal passa a ser real, o subjetivo passa a
ser objetivo.
No volume XI das Obras Completas sobre Ramana
Maharshi, encontramos suas impressões sobre os sonhos, na
seguinte questão:
Pergunta 22 - Não existe diferença entre vigília
e sonho?
Resposta - “A vigília é longa e o sonho curto; essa é
a única diferença. Assim como os acontecimentos do período
de vigília parecem reais enquanto estamos despertos, também
os acontecimentos do período de sonho parecem reais
enquanto sonhamos.
No sonho, a mente toma outro corpo. Tanto no estado de vigília como no estado de sonho,
pensamentos, nomes e formas ocorrem simultaneamente.”
Muito provavelmente os sonhos apresentem uma marca
registrada do sonhador.
Cada indivíduo possui um certo padrão de sonho cuja característica básica torna-se sua identidade essencial. Cada sonhador apresentará, sempre, um estilo próprio
de sonho, independente de seu conflito pessoal ou das imagens arquetípicas que utilizar.
Como o sonho é uma realidade do sonhador, nele vamos encontrar sua identidade e seu estado
psíquico.
Fonte:Adenáuer Marcos Ferraz de Novaes
Nenhum comentário:
Postar um comentário